Sendo que eu já ligava pouco a previsões do governo, estou curioso porque raio o Gaspar veio dizer já em Fevereiro que tinham previsões erradas.
É apenas para irritar?
Leituras: "Dois Mistérios", por Pedro Marques Lopes no DN
Escada Acima, adiccionado ali ao lado.
Porque há blogs que se centram em coisas bem mais importantes do que se faz por aqui... e quando vem com boa escrita, não interessa se é pessoal, acaba por nos interessar também.
"Os 99%", por Rui Tavares
Expresso da Meia-Noite na SIC Notícias de 22 de Fevereiro... importante sobretudo a partir da meia-hora nas intervenções do economista Sá Carneiro (numa linha mais à "direita" em termos económicos) e do professor do ISCTE (penso que ligado ao Bloco), com linhas diferentes. E importante sobretudo por uma razão: falam-nos das opções. E isto não é um pormenor, é o essencial...
A ler: «No meu tempo é que era bom», por Bernardo Pires de Lima
Adoro este tema do "no meu tempo é que era bom", mas ainda dá mais vontade de gostar deste gajo quando continua com este post:
Da JavardiceEm remate ao post anterior, até porque não costumo falar disto. Pertenço (como um dia alguém, simpaticamente, me questionou) a uma família de salazaristas empedernidos. Antepassados do regime, políticos destacados, costados de bem com o que de melhor essas décadas parecem ter proporcionado. Cresci a ouvir histórias sobre as maravilhas desses tempos, as trevas depois de 74, a miséria de país que temos hoje. A minha resposta é sempre a mesma: agradeço muito as lembranças mas javardice por javardice, prefiro as badalhoquices de agora, sempre são da gana de cada um, feitas em liberdade e com liberdade. A começar no direito a sair do país sem a autorização do "esposo" ou na consumação de um casamento com quem nos der na telha, homem ou mulher. Liberdade não é folha de cálculo, é um valor qualitativo.
É o novo simbolo de protesto contra o governo.
Começou tudo no Parlamento, aquando a intervenção de Pedro Passos Coelho. Começa aqui um certo "mixed-feelings" sobre a discussão que se gerou. Formalmente, parece-me errado alguém, numa democracia, desrespeitar o direito de um político eleito falar na casa que representa a mesma democracia. Os deputados foram eleitos pelo povo ("o povo é quem mais ordena", nas regras democráticas - bem ou mal - estabelecidas) e queriam ouvir alguém que sustentam como líder (?) do governo.
No entanto, também não me parece um caso para choque como foi para outros tantos (em menos quantidade, é certo). Manifestações no Parlamento não são inéditas, inclusivé em épocas prósperas, tendo tipo sempre a mesma consequência (evacuação de quem desrespeita)... e nisto, o PPC acerta: sempre é uma das formas melhores de interromper inadequadamente a sessão parlamentar. Não sei se é estratégia pensada, ignorância ou forma de estar, mas neste ponto em particular tem sido exemplar.
É uma acção de protesto, não limitou por mais de dois minutos a liberdade de expressão (que formalmente deveria ser respeitada), parece-me algo normal dentro da época delicada que vivemos.
Só que este acto replicou-se ao estilo de "Harlem Shake"... ministros e ministros são interrompidos constantemente. Começo a ter que dar razão a quem acha irónico querer calar uma entidade democrática - governo - com Zeca Afonso. Eu não conheci o José, não sei se ele aprovaria este uso da música ou não, mas é aqui que entra algo de que receio nestas acções populares... nem tanto pela acção em si, mas pelo espírito. Já volto a isto.
Antes disso, Miguel Relvas foi mesmo calado no ISCTE e penso que agredido. Aqui, já não tenho mixed-feelings... é passar do simbolismo para limitarmos a liberdade de expressão de outros. É que não foi só Miguel Relvas que se viu limitado, foi toda (diria sobretudo) a iniciativa que aconteceu a ali. Infelizmente, não consigo encontrar o vídeo em que José Carvalho dos Santos fala aos manifestantes, mas que fora bastante acertivo sendo algo mais ou menos como isto: «Não temos o direito de limitar a liberdade de expressão de qualquer pessoa, seja ela quem for.»
A aceitação destes actos é uma caixa de pandora que acaba sempre mal.
Voltando ao espírito que acho perigoso... é mesmo a aceitação destes actos. É a crença das pessoas em revolucionar algo sem saber o que querem substituir e porquê. A arquictetura da democracia portuguesa pode ser frágil, mas não vejo grande espírito na construção de uma democracia mais profunda... pelo contrário, vejo demasiada intolerância sobre as opiniões dos outros.
Nota: Podia ter falado sobre outras liberdades. Aqui falei sobre a liberdade do Miguel Relvas se expressar politicamente com discursos, podia ter falado sobre a liberdade de Miguel Relvas expressar-se a cantar... mas temo que a minha opinião vá contra os meus principios liberais.
Adenda
(27 Fevereiro)
Só no início desta semana apanhei a discussão sobre a coisa fora das redes sociais. Estava interessado para saber a opinião de alguns opinadores sobre isto, estava na dúvida sobre a linha que tomariam, mas surpreendeu-me a linha da legitimidade de qualquer tipo de acção e a indignação sobre quem tem reservas (sobretudo no caso ISCTE) chamando de "castas" (os que alertaram para o limite foram sobretudo políticos). Da amostra que li e ouvi, apenas Pedro Mexia disse-me o que parece óbvio (Pedro Marques Lopes também em parte).
Na base da defesa de todas e quaisqueres acções estão dois argumentos... que me parecem bastante fracos. Uma ressalva, no entanto, para um outro factor que posso ter interpretado mal: será que Relvas não pôde intervir no ISCTE? Só vi a reportagem curta da TVI, no entanto, os argumentos foram usados mesmo no caso de uma limitação óbvia.
Argumento 1: "É o Relvas"
Não consigo ter uma argumentação muito profunda contra isto. Nem que fosse o Hitler, até eu defendo a livre circulação do Mein Kampf... defendo tudo até ao ponto que não restrinjam as liberdades dos outros. Acho até saudável porque só tenho hipótese de convencer/argumentar o contrário se os outros tiverem liberdade de dizerem o que acham. E existem muitos tabus por aí.
É uma questão de princípio, mas também pragmática... não é a impedir que falem em algum sítio que vão parar qualquer ideia idiota, pelo contrário.
Sobre o facto de ele já não dever estar naquele cargo, é um outro ponto, mas que vou abordar na conclusão.
Argumento 2: "Ele não foi silenciado, ele fala nos media quando quer"
É tal e qual como, numa discussão de amigos num café, impedir de falar alguém porque quando chegares a casa podes opinar no facebook para muito mais pessoas. Este argumento foi o usado mais a sério por opinadores que defendem direitos até ao fim. Vamos lá ver, eu não estou preocupado do "coitadinho" do Relvas ver a sua liberdade de expressão no geral limitada... ele não passa a coitadinho por esta situação (vamos supor mesmo que foi impedido). Agora, vejo tantos por aí a apelar a principios que gostam de os deixar de parte quando lhes convém.
Sobre as outras manifestações, já falei que pouca liberdade retiram e são normais (devem ser encaradas com maturidade e sem excessos de formalismo), mas também me custa que venham argumentar que é um direito inalianável na forma como são feitas. Uma coisa é contextualizar, outra é achar que é um direito inalianável alguém interromper eventos... não falamos de uma manifestação de rua ou manifestações que não interferem com a liberdade dos outros. Parece-me que há aqui uma excitação que está a impedir a defesa óbvio.
A excepção
Para tudo há sempre uma excepção. É óbvio que há acções que podem transpôr o formalismo/legalidade de forma constante em casos extremos. Senão seriam impossíveis revoluções e situações similares, mas convém haver um propósito... ou passamos ao livre arbitrio de alguns.
Relvas continuar como ministro não é motivo para tal? Talvez, mas não me parece que uma acção como a do ISCTE (fazendo o tal suponhamos) tivesse essa finalidade... se tinha, é demasiado fraca. E mesmo que fosse, convém ser uma situação pontual... esse tipo de decisões convém não cair em plena rua (diferente de urnas), portanto mais vale alterar para um sistema democrático mais próximo dos cidadãos.
E a grande questão dos nossos tempos: a democracia portuguesa não chegou ao ponto de legitimar actos bem mais revolucionários?
Eu talvez esteje um "bocadinho" chateado há um "certo" tempo com o sistema português, mas talvez por razões (ou soluções?) diferentes da maioria. E volto à grande questão que me preocupa, não vejo acções construtivas em muitos lados. As que existem têm pouco suporte. Custa-me que a (única?) coisa mais influente de intervenção política ou popular seja um manifestação "anti-troika" que se auto-contraria quando se transforma numa manifestação apartidária e de contestação sem alvo.
Sim, sim, eu também não tenho feito grande coisa.
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