"Fico com pena dos familiares de Fernando Tordo, especialmente do filho João que conheço, estimo e cujos livros comprei e paguei. Simpatizo e entendo, como ninguém, a ausência. Mas esta é uma realidade de milhares de Portugueses. A minha realidade inclusive, já que não vejo o meu filho Fausto e a minha mulher Sónia há mais de um mês. Quando ele tinha 18 dias fui em tour. Quando ele deu os primeiros passos, estava fora. As primeiras palavras, também. Ninguém é mais que ninguém nas saudades. Ninguém é especial no sofrimento." Fernando Ribeiro (Moonspell) no seu blog
Convém, antes de tudo, despersonalizar o possível em torno do pseudo-caso da família Tordo. A troca pública de mensagens entre filho e pai é um reflexo do pensamento de muitos portugueses, as diversas reacções às mesmas são também o reflexo do pensamento geral. De um lado, os críticos de um "país que não oferece futuro", do outro os contra-críticos com algum desprezo pela actividade artística e situação social.
Sim, a situação social é talvez a parte mais aceitável da crítica, pelo menos numa certa perspectiva.
Como diz João Tordo (o filho), não esperava que a sua mensagem tivesse tanto impacto nos media e rede sociais. Por isso mesmo, prefiro centrar-me no pensamento que o levou a escrever do que tecer grandes considerações pela mensagem que acaba por ser mais parcial e mais intíma. Mas a tentativa (ainda não percebi se furada ou não) de mostrar este caso como um "coitadinho" que não teve oportunidades em Portugal parece-me vindo de quem vive fora da realidade. Não sei quais foram os vencimentos do cantor ao longo da vida e as suas dificuldades de singrar na vida musical, mas parece-me difícil imaginar que Tordo possa equiparar as suas "faltas de oportunidades" face ao comum português. Parece-me até difícil dizer que não foi um sortudo (dentro do mérito que teve) a fazer ao longo da vida algo que gostava.
Em último caso, Tordo teria sempre a opção de não ter vivido da música. Duro? Talvez, mas parece-me difícil imaginar que as suas opções tenham sido piores que grande parte dos portugueses. Diria mais, que tenham sido piores que outros músicos da altura ou da actualidade. Num aparte, embora sem grande conhecimento, parece-me que a cena musical actual não promove grandes sucessos nacionais ou internacionais que enriqueça um ou dois artistas, mas que permite um leque mais diversificado de escolha e de distribuição de riqueza entre os artistas. Não é isto bom? Ou os artistas da "velha guarda" pretendem um 'status quo' eterno com base em trabalhos passados?
Note-se que o problema não é ter sido músico, o problema é igual a muitos outros portugueses que acham que o país tem de oferecer o seu emprego de sonho. É verdade que há áreas específicas nas quais o país não oferece oportunidades onde deviam existir, mas é demasiado transversal este choradinho que se vê por aí, dos que ficam e dos que partem. Partir ou ficar é uma decisão pessoal e até temporal, com muitos prós e muitos contras. É verdade, o bom e mau é vivido de uma forma intensa, mas fora situações mais delicadas (nada a ver com esta nova vaga de emigração que sai nos jornais) - a emigração não qualificada parece-me bastante mais preocupante que a nova geração licenciada e com escolhas - é uma decisão pessoal... e se as pessoas o fazem é porque acham que há mais prós que contras.
Deixo um dos comentários ao texto do Fernando Ribeiro:
"Enquanto "expatriado" em Inglaterra, sempre me irritou a "apologia do emigrante". Que quem emigra é um corajoso que vai para longe, porque Portugal é mau.
Tretas.
Quem emigra, faz por questões práticas - mesmo que seja de sobrevivência, não deixa de ser uma decisão prática. Assim como ninguém é corajoso por fugir se a sua casa pegar fogo...
Quem emigra não é mais inteligente, mais trabalhador, ou "melhor". É tão inteligente como quem fica. Tão trabalhador e bom, não mais. Ou devemos assumir que os amigos e familia que deixei são estúpidos? E quando eu voltar a Portugal, é porque sou estupido?
Portugal tem defeitos, falhas, criadas por nós e pelas circunstâncias. Mas francamente, exceptuando os morangos e as salsichas, não há nada em Inglaterra que seja melhor. Há muitas coisas boas por aqui é certo, mas Portugal é mais.. luminoso. A nossa Alma Mater, é claro!"
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